segunda-feira, 13 de abril de 2009

Irmãos e irmãzinhas: depois da Páscoa, nada melhor do que Quintana em dose dupla. Uma semana luminosa para todos.


PEQUENO POEMA DIDÁTICO

O tempo é indivisível.Diz
Qual é o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconsequente conversa.

Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são horas extremas!

(Mário Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

DA NECESSIDADE DA POESIA (11)

Irmãos e irmãzinhas: este belo poema de Vicente de Carvalho (1866 – 1924) demonstra claramente que a boa poesia na tem idade e pode agasalhar-se em qualquer “embalagem”: clássica, romântica, parnasiana, simbolista ou modernista. Melhor seria (será sempre): eterna. Uma semana luminosa para todos.

VELHO TEMA

Só a leve esperança, em toda vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

(Vicente de carvalho – Poemas e Canções)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Professor!! Poesia? Pra quê?

- Moça eslovena:

Há uma história maravilhosa de um escritor argentino, cujo nome não me lembro. No colegial, certa feita, entrou na sala de aula um professor estranho, meio lerdo, meio triste, que iniciou sua aula assim:
- Meu alunos, sou o professor de Filosofia, disciplina que, como se sabe, não serve para nada.
Intrigados, os alunos se entreolharam como se dissessem com os olhos: "finalmente, um cara honesto". O professou fez uma pausa e acrescentou:
- Agora, peço permissão a vocês para gastar o restante do tempo da aula falando sobre nada.
E mandou ver: uma belíssima aula sobre o nada e suas consequências na vida de cada um de nós. Naquele instante, o aluno, que se tornaria escritor, tomou uma decisão: "Quando crescer, quero ser professor de nada". Formou-se em Filosofia e tornou-se escritor.
Essa história maravilhosa é contada, com engenho e arte, por Affonso Romano de Sant'anna.

A poesia é extamente isso: nada e não serve para nada. A despeito disso, sem ela, a vida ficaria um pouquinho mais pobre e muito menos instigante.
Quintana, o inventor da simplicidade, afirmava: "A poesia é a invenção da verdade".

Pronto, moça, aí está a resposta. Se quiser, publique.

Cordialmente,

velho Ancião.


De uns tempos para cá, o Professor Cineas Santos virou exímio internauta. Lembro das primeiras vezes que estive lá em seu escritório na Oficina da Palavra que ele se negava veementemente a aderir à era da informática. Belo dia, porém, ganhou um pc novinho, monitor LCD grandão dos mais modernos... deu nisso: passou até a divulgar poesia na rede. Nós aqui, internautas convictas há uns 15 anos, pedimos sua autorização para transformar os e-mails, doravante, num novo blog: Da necessidade da poesia. Por Cineas Santos, que abrimos com a seguinte postagem:

Irmãos e irmãzinhas: há poemas que você lê e se pergunta: - Por que não escrevi isso, meu Deus? "Fábula", de Nelson Nunes, é um deles. Preciso e exato como deve ser um poema capaz de emocionar. Uma semana luminosa para todos

FÁBULA

O mar
céu subterâneo
cheio de mistérios
e estrelas apagadas

No fundo claroescuro das águas
algumas estrelas caídas viram peixes
outras
os peixes comem.

Um dia
um pescador comeu um peixe
que havia comido uma dessas estrelas
e toda a sua fome se fez luz

(Nelson Nunes - Baião de Todos)